Com ditados e materiais simples como calendários, jogos e coleções, a turma de 6 anos vai muito além do 0 a 10
Por: Faoze Chibli
Em muitas escolas de Educação Infantil, os números são ensinados pouco a pouco, e não passam do 10. Mas, em Paragominas, a 319 quilômetros de Belém, os professores planejam suas aulas partindo do pressuposto de que a criança, mesmo antes de ingressar na escola, conhece muito a esse respeito. Na TV, todos vêem propagandas anunciando o preço de um carro e, no videogame, a pontuação chega aos milhares.
Para sistematizar esse conhecimento, as escolas propõem atividades e situações que permitem perceber o valor dos algarismos conforme a posição que ocupam. Idéias simples como uma coleção de tampinhas ou contar qualquer coisa – palitos de sorvete, os dias que ainda faltam para um passeio ou aniversário – ajudam no aprendizado da escrita numérica e a saber, por exemplo, que 15 é maior que 5 e que 253 não é escrito assim: 200503.
O ditado é uma estratégia valiosa, assim como o uso de materiais como cartelas numeradas, calendários e jogos de percurso. Tudo isso faz parte das aulas da professora Débora Costa Ferreira, da EMEF Dom João VI, de Paragominas, para a turma de 6 anos. “Ao falar de datas comemorativas e dos aniversários, as crianças entram em contato com o sistema de numeração, adquirindo esse conhecimento primordial para os futuros aprendizados”, afirma Débora. “Para intervir, observo e registro tudo.”
Priscila Monteiro, coordenadora do programa Matemática é D+, da Fundação Victor Civita, destaca as condições fundamentais para que os resultados das atividades sejam positivos: organização de grupos de, no máximo, cinco componentes, disponibilidade de material para todos e repetição da atividade para que a garotada se familiarize com as propostas de ler, nomear e escrever números.
A criança pode, por exemplo, dizer que tem 3 anos, que ganhou duas balas, que tem quatro irmãos etc., e confundir a escrita do 6 com a do 9, ou não saber como se escreve o 8. Durante as atividades, ela terá oportunidade de defender seu ponto de vista perante os colegas, questionar o dos outros, argumentar e tirar conclusões. Priscila alerta: “Essas ações não acontecem de forma espontânea. Cabe a nós, professores, organizar vários momentos que favoreçam a troca”. Veja no quadro abaixo um plano de trabalho sugerido pela educadora.
Quer saber mais?
Contatos
EMEF Dom João VI, Rod. PA-256, km 11, 68634-000, Paragominas, PA, tel. (91) 3738-1541
Priscila Monteiro, pbm@terra.com.br
Bibliografia
Didática da Matemática, Cecilia Parra e outros, 258 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444 (edição esgotada)
Atividades
Plano de trabalho
Objetivos
• Registrar números.
• Aprender a escrita numérica.
Conteúdo
• Sistema numérico.
Ano
Pré-escola.
Tempo estimado
30 minutos, diariamente.
Materiais necessários
Tabela numérica, jogo de percurso com dois dados, objetos para colecionar ou materiais escolares.
Desenvolvimento
• Atividade 1
Entregue uma folha em branco para cada criança anotar os números que você ditar da forma como acha que são. Se uma olhar a do colega, apenas anote que copiou. Se achar que duas produções ficaram muito parecidas, chame os autores e pergunte com tranqüilidade se eles fizeram juntos. Escolha números com diferentes características para o ditado.
– “Opacos”: aqueles que não explicitam, em sua forma oral, o princípio aditivo e multiplicativo do sistema de numeração: do 1 ao 15.
– Redondos: 10, 20, 50, 90, 100, 1000.
– Os que explicitam as relações aditivas e multiplicativas: 86 (80 mais 6), 134 (100 mais 30 mais 4) 100 000 (100 vezes 1000).
– Familiares: os de uso social freqüente, que aparecem nas notas de real (100, 50, 20, 10, 5, 2 e 1), moedas (25) e datas (2006, 2007).
– Os que podem ser compostos com base em outros já ditados: 150 (se você já ditou o 100 e o 50).
– Com algarismos iguais: 555, o que pode levar os pequenos a fazer algum tipo de variação na escrita dos algarismos em função de seu valor posicional (500505).
– Os que são formados pelos mesmos algarismos de outro já ditado, porém invertidos: 52 e 25.
Repita essa atividade várias vezes.
• Atividade 2
Fixe uma tabela numérica na parede. A seqüência pode ser organizada de 10 em 10 (do 1 ao 10 na primeira linha, do 11 ao 20 na segunda etc.) para facilitar a identificação das regularidades. Escreva os números com traços simples, sem desenhos. Ela deve ser consultada quando for preciso lembrar a escrita ou recordar a série. Para estimular o uso, sugira que os pequenos escolham um número e recitem todos os outros até chegar nele, quando param de contar e tentam escrevê-lo. Outra opção é pedir que as crianças façam uma consulta quando não souberem nomear um algarismo. Também nesse caso elas contam sobre a tabela até encontrar a escrita desejada e descobrir o nome.
• Atividade 3
Sugira um jogo de percurso, em que a garotada percorre uma trilha com base no número que tirou em um dado. Utilize dois dados para que a turma passe da contagem – quando o pino anda a quantidade de casas correspondente ao que saiu em um dado – para a sobrecontagem: ao tirar 5 e 3, em vez de contar os pontos, um a um, o jogador aprende que é mais rápido partir do dado que traz o maior número e adicionar os pontos do outro, completando 6, 7 e 8.
Avaliação
Observe os avanços e mude os desafios à medida que as crianças forem chegando mais facilmente às respostas corretas.
Consultoria
Priscila Monteiro, coordenadora do programa Matemática é D+, da Fundação Victor Civita.
Fonte: Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br
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